terça-feira, agosto 11, 2009

A dureza da sombra e a leveza do ser...


Sombra por onde vou caminhando, sombra que ampara o meu desespero. Caminho pela terra que vai seguindo as minhas pisadas, que mesmo em dias de tempestade não deixa que elas desapareçam. Esta terra que não é minha quer que eu seja dela. As raízes estão profundas e bem presas. A sombra que me segue, ou melhor, que aqui me amarra começa a ficar sem forças para me segurar. Os olhares adensam-se em torno da minha pessoa. Interrogações, discriminações, repreensões. Muito se julga, muito se fala. Julgar sem saber, sem ter fundamentos para o fazer. Vivem na ilusão de ser alguém com cabeça, com preceitos constituintes do ser pessoa. Este ser pessoa dá cabo de mim. Creio que a leviandade possui o comum dos mortais, a preguiça também. Sentadinho no sofá, com as pernas pousadas na mesa que fica no centro da sala, e ver televisão, ou dormir, ou ler as belas das revistas que por aí todos compram. É, preguiça. A cobiça, os mexericos, o disse que disse, e o olhar de lado para tudo e para todos. Os actos que possam parecer irreflectidos, por vezes muitíssimo cogitados e tidos como errados, são vistos sem a análise de um olho que realmente vê. Esta gente, que anda na ribalta e tida como coerentes andam na vida, e os outros é que caminham na sombra. Sombra que é uma realidade análoga à deles, uma realidade transcendental e incompreendida por esta gente comum e que com pouco se contenta. Gente leve, gente que voa ao sopro do vento. Leveza que a muitos importuna e não deixa viver.

terça-feira, junho 16, 2009

Metamorfose


Passagens breves e fugazes. Lugares vagos e distantes. Momentos frívolos e esquecidos. Passagens. Caminhamos na luz de trilhos outrora descobertos e traçados, por entre o mistério, perante o negro. A claridade matinal é envolvida pela escuridão nocturna. A clareza torna-se oculta. Contrastes. Estamos rodeados de contrastes, de diferenças, de mudanças e, mais uma vez, de passagens. No negro vejo o branco, no brilhante vejo o fosco, no frio sinto o quente, no duro sinto o macio. Mudanças. Nada fica como era, nada será como é. Metamorfose fruto do sopro do vento, da brisa marítima, da ininteligibilidade da vida.

quarta-feira, abril 29, 2009

Preto no branco


Águas turvas e turbulentas aquelas que correm por onde passo. Dia de névoa, dia de frio. Não quero acordar nem lutar por dias como estes. Dias penosos, cinzentos, insípidos, amargos. O verde e os seus nuances juntamente com o florido desejado não existem. Vou deambulando serra a baixo em busca da suposta vida. Busco água que me tire a sede, comida que sacie a minha fome. Chego à cidade e não há nada, ninguém. Corro sofregamente pelas ruas da calçada farejando o odor humano e a civilização. Escorrego no chão molhado e caio. Sinto uma força a pôr-me de pé. Mãos fortes e amigas que amparam da queda, do precipício e do abismo. A agitação das ruas, a melodia citadina, os sons disformes, a paisagem outrora de arquitectura uniforme revela-se como um panóplia de cores, formas e sentidos. Uma complexa construção e evolução elaborada pela mente complexa do simples ser. Estilos quase inconfundíveis que destacavam as características autóctones, escondem-se agora detrás dos arranha-céus e edifícios de metal. As ruas onde as crianças brincavam dias inteiros são agora ocupadas por idosos que passeiam e descansam por parques e jardins. O amontoar de carros e de multidões a correr para o metro e para o trabalho, tornam as cidades frias.
Eu, vou observando este congelamento contínuo da nossa sociedade e das relações estabelecidas pelo ser. Apercebendo-me da descaracterização das sociedades, do emergir do sombrio à superfície.

domingo, março 01, 2009

Porto-Coimbra



Sentada, aconchego-me ao banco que me vai suportar até ao fim da jornada. O espaço é diminuto, o ambiente é gélido e de cortar a respiração. Não há folhas de papel, não há jornais, não há revistas, não há livros, não há tradição. A carruagem vai a abarrotar e as pessoas vão coladas aos ecrãs dos portáteis e de auscultadores postos nos ouvidos. Ninguém fala, ninguém estabelece contacto com ninguém. Silêncio. Anónimos que irão ser anónimos até ao fim da viagem. Ninguém que vai continuar a ser ninguém. Tantos e tão poucos. Trocas de olhares constrangedores, unhas ruídas, sorrisos amarelos, olhos vagos que pensam na vida. A viagem outrora duradoura e criadora de novas amizades, torna-se agora em mais um lugar de isolamento. Mais um lugar onde não passamos de mais um, do anónimo que por aí vagueia, que não comunica, que cala e consente…. Fechamos os olhos e só nos preocupamos com o nosso destino, com a nossa paragem. Tudo o resto e todos aqueles que nos rodeiam são deixados em vão e tidos como ninguém.
Nós, continuamos a marchar sozinhos pelo trilho que antigamente era consumado por uma multidão.

quarta-feira, janeiro 28, 2009

Dias.


Chove.O chão é água.O céu está cinzento e o nevoeiro aproxima-se. As casas vão desaparecendo, os carros transformam-se em pontos de luz, ora amarelos, ora vermelhos. As pessoas, essas, esbarram-se com os guarda-chuvas que as cegam. Os carros apressados molham as pessoas que vão calmamente nos passeios, que belo banho! As crianças divertem-se a chapinhar nas poças de água, enquanto os pais, furiosos, refilam : " Olha que ficas doente!". Os pássaros refugiam-se nos ninhos, que por vezes com o vento, que se lembra de nos visitar, faz cair. Ramos no chão, árvores caídas, vasos partidos, vidros quebrados... O frio que nos faz gelar nas ruas, que nos faz sonhar com uma calma tarde sentados no sofá, debaixo de uma mantinha, a olhar para a lareira.O rio, com a chuva que nos invade e persiste em nos acompanhar, vai cheio de vida e pujança. Quase que extravasa a margem que o delimita. Dias de chuva, dias de vento, dias de frio, dias de revolta, dias de frustração, dias de fúria. Dias estes de Inverno, dias estes de insipidez,dias estes de lassidão,dias estes...

domingo, dezembro 14, 2008

Ao relento


Sem forças.Cansada.Adormecida. Abro os olhos e vejo tudo desfocado. Cheira-me a maresia, oiço o farol, sinto a areia. Está nevoeiro, e eu estou na praia. Deitada sobre o extenso areal amarelo, ao relento. Sinto e cheiro o mar, com aquele nevoeiro não o vejo.Sem energia para me levantar deixo-me ficar ficar ali de olhos fechados a ouvir o bater das ondas e o farol que não cessa de tocar.Silêncio. Ainda no meu subconsciente estou a ouvi-lo ao mesmo tempo que vou sentindo a cara quente e os olhos a abrir. Acordo. Está um dia azul e amarelo. Sol, céu limpo, o mar e a areia. Levanto-me cheia de energia para enfrentar um novo dia.

quarta-feira, dezembro 03, 2008

Tempo.


Tempo.Séculos, décadas, anos, meses, dias, horas, segundos. Não vale a pena enunciar mais, por muitas subdivisões existentes deste tempo. Tempo este que não tem tempo. Tempo que urge, tempo que corre.Tempo. Tempo que passa num abrir e fechar de olhos. Tempo que transforma a noite em dia. Tempo que faz com que a Lua adormeça e o Sol começe a raiar. Tempo que não deixa a água descansar até chegar ao mar. Tempo que não pára! Porque corres tu? Ó tempo, que pressa tens tu para caminhar? Que pressa é esta que me consome? Que sofreguidão é esta angustiante? Corres, saltas por cima de tudo, aceleras e esqueces-te dos travões! Não serás capaz de ter calma? Pára! Não corras.Bem que gostaria de dar a volta ao mundo, mas parece que não me queres deixar. Já reparaste no teu envelhecimento precoce? E infeliz! Não páras para viver. Achas que isso é vida? Saboreia. O caminho é longo, mas tem muito que ver, muito que fazer, muito que não se pode perder. Eu, estou farta de ti! Tu, ó corredor, hás-de ficar sem pressa de cortar a meta. Não gosto de ti. Porque tu esgotas-te rapidamente. Quero caminhar e ver tudo, descobrir todos os segredos que me rodeiam. Quero ter tempo de descortinar tudo o que a natureza esconde. Quero descobrir tesouros, quero navegar pelo mar fora. Quero aproveitar o luar. Quero ver o nascer do Sol. Quero caminhar e aproveitar. E tu, que tens a mania que corres, vais deixar de a ter. Tens de ser para o ser. Não podes ser egoísta e pensar só em ti! "Ah! Sou o tempo.A minha função é tic tac tic tac tic tac tic tac...". E os outros? Não existem? Não são gente?Egoísta!

Ai, tempo tempo. Tempo, de tempo não tens nada. Tempo, tem de ter tempo.E tu, não tens tempo. Tu,não podes ser o tempo.